Quem sou eu, na criança que fui?

Por entre um olhar ingénuo de ternura,

ainda hoje recordo quem era,

quem queria ser

e no que acabei por me tornar.

Buscava a alegria de brincar com o outro,

de o escutar, de o interpretar,

do não querer ficar sozinho,

do querer dar e receber um sorriso,

apenas... um sorriso.

Mas não um sorriso qualquer:

um sorriso... sem palavras,

um sorriso... sem maldade,

um sorriso de aceitação.

Quem fui eu e no que me tornei?

Por cada sonho de criança,

mil sonhos de adulto!

Por cada pedaço de autenticidade,

um mar de eu transparente aos olhos dos outros!

Por cada lágrima de injustiça e solidão,

um rosto fechado para o mundo!

Por cada joelho esfolado,

um engolir em seco, sem alma!

Aos bolos da avó partilhados,

um prazer imenso no dar e confortar!

Aos risos naturais do gozo,

a alegria pelos azares que temos!

À ingenuidade perante os manipuladores,

a mágoa por quem magoa e nem sente o que fez!

Aos remendos e à rua do nosso mundo,

todos os buracos da alma por preencher!

Criança que fui, adulto que sou,

onde me perdi e onde me achei.

Não sei quem sou,

mas sei quem fui.

Se para trás olho

e lá me encontro,

é na criança que fui,

a pessoa que sou!

Tenho hoje o mundo em mim,

tal e qual como quando em criança era!

01/06/2019