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  • Foto do escritorEMCARNEVIVA

Pai fundo

Quero ir mais fundo pai, vais-me ajudar a sair?

...

A luz...

A luz começa a dar lugar à sombra e busco o fim!

Parto a pá,

escavo à mão e a água começa finalmente a surgir.

Já não consigo sair,

mas espero,

espero com o tal sorriso.

O sorriso de coragem de quem escava para baixo,

mas que quer subir tão alto,

tão alto como o pai herói!


Ele chega e estende-me a mão encorpada.

Saio por entre olhares curiosos e admirados.

...

Viste pai, este foi o maior buraco que fiz até hoje!

Vou ser forte como tu!

...

Não me responde,

só sorri,

como que orgulhoso de tal feito.


Crescemos,

afundámos os dois em buracos que escavámos!

Ninguém estendeu a mão...

desta vez...

ninguém estendeu a mão!!!


Subi sozinho então, acreditei eu!

Não te vi em nenhum lado!

Procurei em todos os lados para ver se não te via!

se não…

se não te compreendia,

se te negava!


Quando te vi finalmente no fundo,

sem pá e nem água,

eu, como um egoísta e cobarde,

resolvi então... estender a mão!


Não saíste!

Encolhi a mão

e com uma lágrima fria no rosto disse:

Desculpa... desculpa...

só agora a consegui estender!

Pai fundo... sempre... sempre...


19/03/2020 (adaptado de versão de 06/12/2008)

(Ao meu pai... que me ajudou a sair de muitos buracos que fiz na praia de São Torpes e em toda a minha vida... Que nada fique por dizer...)




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