O amor? O amor é abdicar das palavras
- EMCARNEVIVA
- 17 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
E eles abdicaram das palavras,
eles desistiram do sonho.
Aliás, eles eram o sonho tornado realidade,
eles eram o beijo quente,
o abraçar e a lágrima,
o riso e a fuga,
o empurrar para o encontro perfeito,
o desespero da calma sadia,
o toque desconcertado, fruto do encontro sem hora marcada.
Sem horas, dias, semanas, meses, anos, séculos...
Sem o tu, sem o eu, sem o nós, sem o nada,
apenas dois seres tão demarcados, como apegados e unos.
Não há hora marcada para o amor,
mesmo que a morte apareça,
o viver apenas um dia como algo que parece eterno,
compensará todos os longos dias amargos.
Mas que esse dia não tenha mais do que a manhã e a tarde,
que a noite não chegue,
mas se chegar, que nada nem ninguém nos despegue, nos descole.
E que do nós, nasça a vida,
o prolongamento do sonho,
que um novo ser traga a luz dos nossos olhos,
o silêncio das nossas palavras,
o arrepiar da nossa pele,
o suspiro e o fôlego de dois corações prestes a explodir,
prestes a gerar um fogo de artifício que cegue o mais cego de todos.
Aquele que não quer ver,
que não quer sentir,
que não quer ser,
que não quer sofrer,
que não quer amar...
E eles abdicaram das palavras.
Do escutar?
Apenas o leve inspirar que brotava dos seus interiores.
Aquele calor, terno, quente, húmido e floral.
Ambos olhavam e sorriam,
sorriam e olhavam,
as lágrimas corriam.
A paixão fluía intensamente,
imiscuía-se no amor sereno que era um meio e fim em si mesmos.
Mas o fim era o começo,
o eterno começo, que no dia que chegou,
tudo podia finalmente terminar...
E eles abdicaram das palavras,
e eles abdicaram do ouvir,
e eles abdicaram do ver,
e eles abdicaram do eu e do tu,
e eles abdicaram das duas peles,
e eles...
Eles fundiram-se e petrificaram.
E ainda hoje os sinto,
quando fecho os olhos e vejo que...
O amor?
O amor é abdicar das palavras!
16/11/2019

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