Ao que vim eu?
Quem sou eu, este que me vejo ao espelho?
Trespasso-me nos meus gritos mudos,
destatuo-me de mim, vezes e vezes sem conta!
Grito e esperneio, deitado no meu silêncio,
salpico-me de sal, por entre as minhas chagas,
repletas de sangue em chamas!
Em carne viva?
Eu?
Se não vim para amar,
se não vim para gritar a verdade de mim,
para o que vim eu?
Paro, corro,
corro e paro, vezes sem conta
mas só um lugar me interessa,
só um estado me recompensa:
o do amor que nunca tive,
o da paixão que para tudo o resto!
Aquela que por momentos esgota as palavras,
aquela que nos despe de sonhos,
a não ser o de viver na tal cabana,
na tal praia,
abraçados e apenas a sorrir,
apenas a contemplar e esmagados pelo nós.
Ao que vim eu?
Quem sou eu, a não ser pela procura de mim?
Pela busca de mim, em troca do sim
daquele sim que tanto busco...
Sou em carne viva, sim!
Não me cicatrizo por opção,
sinto as dores das feridas abertas,
sinto-me de carne e osso,
feito de sonhos celestiais,
de Romeus e Julietas envenenados,
do tudo e nada,
do céu e do inferno.
Quem sou eu, afinal?
Ao que vim, a não ser ao amor,
à paixão e ao abraço?!
Grito pelo amor
e silencio-me quando o sinto!
Apenas só isto ou tudo isto!
15/12/2019
