A desconhecida
- EMCARNEVIVA
- 12 de jan. de 2019
- 2 min de leitura
Guardada na memória
como de um número, que se guarda num guardanapo,
a primeira vez que se viram,
foi como um encandear cego,
foi como olhar o sol, quando este vai a pique.
Quando tentou fixar o olhar,
o dela, já tinha partido,
já tinha mergulhado nos segredos que escondia,
nos segredos que alimentavam o que ele tanto queria:
a ilusão e a paixão pela conquista, pelo desconhecido.
Aquela cara, aquele olhar fugidio,
mil dúvidas se apoderavam de si,
afinal, quem era ela?!
Aquela personagem, aquela imagem, aquela... deusa.
Tal era o feitiço que o inquinara,
naquele que vivia o amor a partir de um vulto,
de um olhar.
De um olhar que trespassava todas as barreiras,
afinal, a realidade para ele não interessava,
apenas queria amar,
sem uma única palavra,
bastava-lhe... um olhar.
Um olhar que rompesse barreiras,
que rompesse a carne e a alma,
que rompesse... tudo o que estava intacto.
Todos os dias passou a estar à sua espera,
à espera daquele rosto, daquela esperança,
daquela vontade em amar o desconhecido.
Amar o que não tem,
para se sentir sempre em busca, sempre...
Vivo e de coração em sangue, mas feliz!
Quem era ela?
Qual eco que o ensurdecia de paixão?!
Qual sensação que lhe impunha esta visão?!
Uma visão de uma vida,
de uma vida que ele agora exigia eterna
e que se obrigava recluso.
O recluso mais feliz do mundo!
Chegou o dia.
E ele sentado naquele banco de jardim,
ao virar daquela esquina.
E eis que... tudo parou:
o som, os cheiros, o tempo...
Era ela, era a ilusão que o mantinha vivo,
que o fazia acreditar,
que o fazia amar,
um amar, que só podia, mesmo, rimar com respirar.
E que respirar aquele!
Sentou-se ao seu lado,
ele petrificou,
os seus olhos brilhavam,
como naquele dia que a vislumbrara pela primeira vez.
Deram a mão, ela encostou a sua cabeça no seu peito e...
Sem uma única palavra,
os dois sentiram o amor, a empatia, a reciprocidade, a ilusão, a esperança...
As quatro estações desapareceram.
Eles... totalmente imóveis.
Nada importava,
nada era importante o suficiente,
nada tinha o tamanho deste amor.
Deste amor lindo,
que os congelava,
que não fazia andar o mundo,
aliás, o mundo eram eles,
o mundo era ele e ela.
Ela...
a desconhecida!
10/1/2019

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