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  • Foto do escritorEMCARNEVIVA

A desconhecida

Guardada na memória

como de um número, que se guarda num guardanapo,

a primeira vez que se viram,

foi como um encandear cego,

foi como olhar o sol, quando este vai a pique.


Quando tentou fixar o olhar,

o dela, já tinha partido,

já tinha mergulhado nos segredos que escondia,

nos segredos que alimentavam o que ele tanto queria:

a ilusão e a paixão pela conquista, pelo desconhecido.


Aquela cara, aquele olhar fugidio,

mil dúvidas se apoderavam de si,

afinal, quem era ela?!

Aquela personagem, aquela imagem, aquela... deusa.


Tal era o feitiço que o inquinara,

naquele que vivia o amor a partir de um vulto,

de um olhar.

De um olhar que trespassava todas as barreiras,

afinal, a realidade para ele não interessava,

apenas queria amar,

sem uma única palavra,

bastava-lhe... um olhar.

Um olhar que rompesse barreiras,

que rompesse a carne e a alma,

que rompesse... tudo o que estava intacto.


Todos os dias passou a estar à sua espera,

à espera daquele rosto, daquela esperança,

daquela vontade em amar o desconhecido.

Amar o que não tem,

para se sentir sempre em busca, sempre...

Vivo e de coração em sangue, mas feliz!


Quem era ela?

Qual eco que o ensurdecia de paixão?!

Qual sensação que lhe impunha esta visão?!

Uma visão de uma vida,

de uma vida que ele agora exigia eterna

e que se obrigava recluso.

O recluso mais feliz do mundo!


Chegou o dia.

E ele sentado naquele banco de jardim,

ao virar daquela esquina.

E eis que... tudo parou:

o som, os cheiros, o tempo...

Era ela, era a ilusão que o mantinha vivo,

que o fazia acreditar,

que o fazia amar,

um amar, que só podia, mesmo, rimar com respirar.

E que respirar aquele!


Sentou-se ao seu lado,

ele petrificou,

os seus olhos brilhavam,

como naquele dia que a vislumbrara pela primeira vez.

Deram a mão, ela encostou a sua cabeça no seu peito e...

Sem uma única palavra,

os dois sentiram o amor, a empatia, a reciprocidade, a ilusão, a esperança...


As quatro estações desapareceram.

Eles... totalmente imóveis.

Nada importava,

nada era importante o suficiente,

nada tinha o tamanho deste amor.

Deste amor lindo,

que os congelava,

que não fazia andar o mundo,

aliás, o mundo eram eles,

o mundo era ele e ela.

Ela...

a desconhecida!


10/1/2019




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